sexta-feira, 26 de junho de 2009

Tempo, música, companhia e poesia

   Uma amiga manda-me, todos os fins de semana, um postal poético, musicado; outras vezes pintado. Desta feita, convidou-me a recuar ao passado...

    Lembrei-me de uma música (esta minha costela anglófona!) que, de tão simples e harmoniosa, se tornou hino de amor (dizem que de um rei para uma mulher tornada rainha, até que a graça real a descoroou e decapitou).

      
     De Henrique VIII e Ana Bolena... teve o rei o coração ao pé da boca (to have his heart on his sleeve).
     Alguns anos mais tarde, Shakespeare faria da música tópico poético:

És música e a música ouves triste?
Doçura atrai doçura e alegria:
porque amas o que o teu prazer resiste,
ou tens prazer só na melancolia?
Se a concórdia dos sons bem afinados,
por casados, ofende o teu ouvido,
são-te branda censura, em ti calcados,
porque de ti deviam ter nascido.
Vê que uma corda a outra casa bem
e ambas se fazem mútuo ordenamento,
como marido e filho e feliz mãe
que, todos num, cantam de encantamento:
       É canção sem palavras, vária e em
       uníssono: "só não serás ninguém".

trad. de Vasco Graça Moura, in Os Sonetos de Shakespeare (Versão integral)
Lisboa, Bertrand, 2002, pág. 27


Music to hear, why hear'st thou music sadly?
Sweets with sweets war not, joy delights in joy;
Why lov'st thou that which thou receiv'st not gladly,
Or else receiv'st with pleasure thine annoy?
If the true concord of well-tuned sounds
By unions married, do offend thine ear,
They do but sweetly chide thee, who confounds
In singleness the parts that thou shouldst bear:
Mark how one string, sweet husband to another,
Strikes each in each by mutual ordering,
Resembling sire, and child, and happy mother,
Who all in one, one pleasing note do sing:
       Whose speechless song being many, seeming one,
       Sings this to thee: 'Thou single wilt prove none.'

William Shakespeare
    
     Combinação artística e estética: letra e música, com o amor em pano de fundo.

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