quinta-feira, 12 de agosto de 2010

História(s) que a língua nos dá.

   Provas de que, na língua, o tempo faz diferença.

   A propósito de conquistas do século XII, aparece, num documento do século XVII, um dado descrito nos seguintes termos:

"Ganharão-se as Villas de Abrãtes e Torres Novas, ambas muyto fortes em o sitio, fermeza de muros e castellos (...)."

 (Frei António Brandão, in Monarquia Lusitana, 1632)

   Para além de questões ortográficas e da representação mais ou menos próxima de realizações fónicas, destaco a colocação pronominal clítica na primeira forma verbal: no contexto actual da mesóclise ('ganhar-se-ão'), há registo escrito de que há quase quatro séculos se fazia (dizia?) o que os alunos hoje em dia teimam em usar nos seus discursos orais / escritos.
   Tratando-se de um caso crítico a privilegiar no trabalho de língua, o que hoje se explica como uma evidência de composição histórica na língua portuguesa, com repercussões morfossintácticas (aproximando a conjugação pronominal de verbos no futuro e no condicional), parecia mais natural, menos complexo em estádios linguísticos anteriores.

     Quantos alunos não gostariam que retomássemos esse tempo (pelo que dizem e pelo que escrevem).

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