sexta-feira, 24 de junho de 2011

Erros morfológicos

       Há práticas docentes que motivam algumas dúvidas; há tipologias de erros que lançam outras mais.

    Na base de uma tipologia de erros e na redefinição das áreas linguísticas segundo o Dicionário Terminológico para os Ensinos Básico e Secundário (DT), a questão impõe-se:

    Q: O que é um erro morfológico? É o caso da má construção do conjuntivo?

    R: À luz da definição do DT, a morfologia é a "Disciplina da linguística que descreve e analisa a estrutura interna das palavras e os processos morfológicos de variação e de formação de palavras". Os erros que possam estar aqui inseridos são os que se relacionam, então, com a palavra e os seus constituintes morfológicos; a morfologia flexional e os processos morfológicos de formação de palavras (derivação, composição).
     A título de exemplo, cabem aqui casos de: 

. má formação ou deformação na base das palavras (ex.: *gramamática, em vez de gramática; *perca por perda; *interviu, por interveio; *manteu, por manteve; *deia, por ; * tou, *tamos, *tão, *tava, *teve, *tivemos ou *tiveram, por estou, estamos, estão, estava, esteve, estivemos ou estiveram);

. seleção indevida de afixos (ex.: *aprovamento, no lugar de aprovação; *treinagem, em vez de treino / treinamento; *planeação em detrimento de planeamento; *premiação, para prémio);

. desconhecimento quanto aos constituintes sufixais nos contrastes de género / número (ex.: *profeta no feminino em detrimento de profetisa; *palavras-chaves em vez de palavras-chave; quaisqueres, por quaisquer; *sabião, em vez de sabiam; *tu fizestes, no lugar de tu fizeste ou *presidenta por presidente);

. desrespeito da integridade da palavra no seio da família de palavras (ex.: *previlégio, por privilégio; *previlegiado, por privilegiado e desprevilegiado, por desprivilegiado);

. desconsideração de especificidades ou irregularidades morfológicas na flexão de tempos e modos (ex.: *cabo, por caibo ou *saiem por saem; *fazerá, em vez de fará ou *trazeria, em vez de traria; *subinde ou *subei, por subi);

. não reconhecimento de estruturas complexas de conjugação e flexão verbal (ex.: futuro e condicional em construções pronominalizadas, como em *faria-se, em vez de far-se-ia; *direi-o, em vez de di-lo-ei).

     Naturalmente,  há casos que remetem para múltiplos focos de abordagem, no que toca às áreas ou disciplinas implicadas na análise do erro. Por exemplo, os já mencionados '*sabião / sabiam' ou '*previlégio / privilégio' andam a par de questões ortográficas e de deturpações fonéticas, tal como os casos de flexão morfológica se conjugam necessariamente com o domínio da sintaxe (ex.: colocação do pronome na conjugação pronominalizada; flexão em número e flexão / variação em género na construção de coesão frásica, entre outros).
     No que toca ao conjuntivo, convém sublinhar que este pode apresentar-se como um caso crítico e relacionar-se com a morfologia no já referido exemplo '*deia / dê'; também pode associar-se a problemas de ordem ortográfica, sintáctica e /ou fonológica (ex.: ganhe-mos / ganhemos, faça-mos / façamos).
    Daí a pertinência de plataformas com outros domínios ou outras disciplinas a bem da análise/ocorrência de certos erros (ex.: disse-mos / dissemos e poder / puder motivam falhas com implicações em termos morfofonológicos e morfossintácticos).

     É por esta e outras questões que sou a favor de plataformas de entendimento, de negociação e de moderação (nomeadamente na Linguística e na rede de entendimentos, de perspectivas, bem como de contributos das suas áreas ou domínios de estudo, sempre que tal se revele proveitoso em termos didácticos).
     

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