sábado, 2 de julho de 2011

No dia em que morreu a "poeta".

     Para quem diz que o feminino de poeta é "poetisa", houve uma que assim não o quis.

    Sophia de Mello Breyner Andresen assim o assumiu (também Natália Correia assim faria, de forma mais veemente): querer ser poeta, por considerar "poetisa" um sinal de menoridade no feminino. E, perante o estatuto que lhe é reconhecido, a língua passa a comportar-se de forma diferente (quanto mais não seja para esta ilustre escritora): a uma palavra que se formava, no feminino, por derivação sufixal, atribui-se, com Sophia, a possibilidade de 'poeta' ser um nome comum de dois (ou seja, cujo contraste de género se constrói em termos sintácticos, pela anteposição de determinante - o poeta / a poeta).
     Aliás, generalizou-se, de algum modo, o recurso a 'poeta' para designar a condição também feminina de todas as que são autoras ou revelam sentir poético. Até neste domínio Sophia não deixou de marcar a nossa língua, tão recriada, iluminada, espraiada e vitalizada nos versos e na prosa que produziu.

 
    Pelo dia que, há sete anos, a celebrou nessa passagem para um tempo eterno, límpido, liberto das imperfeições dos homens; o tempo em que os deuses participam se não se perderem.

     Caso para dizer que, também por ela, "nunca mais" a língua será a mesma.

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