sábado, 1 de junho de 2013

Entre o necessário e o obrigatório, onde fica o adjetivo?

     Houve já oportunidade de abordar a questão dos adjetivos relacionais.    

     A tipologia, ainda assim, merece alguns outros apontamentos, quanto mais não seja pela distinção a fazer dos exemplos que possam caber nesta (sub)categoria.

    Q: Colega, posso considerar 'obrigatório' e 'necessário' adjetivos relacionais? Eles têm a ver com os respetivos nomes (obrigação e necessidade), mas gostava de confirmar esta conclusão. Não vejo isto tratado em nenhuma gramática. Obrigado pela ajuda.

     R: Caríssima colega, um adjetivo relacional mantém relações com um nome, mas nele estão implicadas questões de derivação. À base nominal devem ser ajustados constituintes morfológicos implicados na derivação: por exemplo, a partir de "síndico" (nome) forma-se a palavra 'sindical' (adjetivo relacional) por derivação (no caso, sufixada).
     Entre as situações de maior frequência na construção de adjetivos relacionais encontram-se as que dizem respeito à derivação:
a) de nomes próprios - antropónimos, gentílicos, toponímicos - para os adjetivos respetivos (Amarante > amarantino; Cuba > cubano; Dante > dantesco; França > francês; Maquiavel > maquiavélico; Queirós > queirosiano);
b) de nomes associados a tempo / espaço para os adjetivos correspondentes (campo > campino; casa > [produção] caseira; centena > centenário; perpendículo > perpendicular; semana > semanal / semanário; trinta > trintão / trintona; trópico > tropical); 
c) de nomes ligados a domínios de saber, nomeadamente o científico, o tecnológico, o artístico, o profissional (alergia > alérgico; célula > celular; finanças > financeiro; gramática > gramatical; histamina > histamínico; linguista > linguístico; músculo > muscular; pesca > pesqueira; sociologia > sociológico; tecnologia > tecnológico);
d) de nomes para adjetivos de natureza argumental ou temática, isto é, configuradores de algum participante - agente, paciente, experienciador - numa situação designada ou implicada num núcleo nominal (papa > [visita] papalpresidência > [decisão] presidencial;);
e) de nomes para adjetivos de carácter classificativo (álcool > alcoólico; sol > solar).
      Por norma, este tipo de adjetivos não apresenta marcas de grau (*Ele informou sobre a viagem menos papal),  não se configura numa construção de estrutura predicativa (*Este exercício é gramatical) nem pode ser substituído por uma subordinada relativa (*Esta atividade que é pesqueira...).
    O caso dos adjetivos que aponta não cabe no contexto de derivação (morfológica) até aqui exemplificado. Há apenas uma associação léxico-semântica com os nomes que refere ('obrigatório' é relativo a obrigação).
      Vai nesse sentido a tipologia de adjetivos que alguns estudiosos desenvolvem, como é o caso de Violeta Demonte num seu estudo de 1999: “El adjetivo: clases y usos. La posición del adjetivo en el sintagma nominal" (in I. Bosque e V. Demonte (orgs.), Gramática descriptiva de la lengua española, Madrid: Real Academia). Entre os que atribuem propriedades aos nomes (nomeadamente os qualificativos e os relacionais) e os que não o fazem, estão neste último caso os adjetivos que exemplifica, mais precisamente nos intensionais (ou seja, os que modificam a intensão dos Nomes). É este o caso dos adjetivos modais, onde "necessário" e "obrigatório" se inserem.

      Assim, a questão dos adjetivos é bem mais vasta do que a proposta pelo Dicionário Terminológico, que reduz a três subclasses (qualificativos, relacionais, numerais) uma categoria muito mais enriquecida se perspetivada além da dimensão morfológica ou morfossintática (como é caso da consideração do critério semântico, para não falar de um outro mais de carácter pragmático e textual).

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