quarta-feira, 24 de julho de 2013

Igualdades injustas

     Na sequência da formação ontem iniciada, muitas foram as reflexões surgidas, a propósito de avaliação.

      Uma delas - decorrente da orientação para a diferenciação e para uma criteriação aberta à afirmação de individualidades, à multiplicidade de inteligências e às diferentes formas de se atingir um fim / propósito / objetivo - tocava o ponto da justiça da avaliação e de como os avaliados veriam a correlação justiça-igualdade.
      Pergunto-me, claro, se há igualdade ao pedir-se a dois alunos que, no basquetebol, encestem à primeira, tanto o que tem cerca de dois metros como aquele outro que nem chega a metro e meio de altura. Terão certamente ambos direito à oportunidade de praticar o jogo; pode até acontecer que o mais baixo venha a cumprir melhor e/ou mais cedo o objetivo, mas não deixará o primeiro de ter maior probabilidade de sucesso sem tanto esforço.
  A questão da justiça e da igualdade de oportunidades pode ser tão aparentemente contraditória quanto a igualdade não poder significar tratar todos de igual forma: perante o objetivo de dar a ver o que esteja para lá de um muro, uma pessoa mais alta pode já ver ou estar próxima de o fazer, o mesmo podendo não acontecer a alguém bem mais baixo, a não ser que lhe sejam dadas condições distintas das que sejam eventualmente facultadas a quem não precisa de tanto. Igualdade não pode significar indiferença e igualitarismo, sob pena de se criar o sentido de injustiça.
      No campo da educação e da avaliação, impõe-se refletir sobre a questão, a ponto de ser preferível falar de equidade (segundo Stacy Adams, que, nos anos sessenta e na lógica das teorias motivacionais no trabalho, enfatizava a percepção pessoal sobre a razoabilidade ou justiça relativa na relação laboral com a organização e defendia que a motivação depende do equilíbrio entre o que a pessoa oferece à organização e o que recebe). Perspetiva-se, assim, a problemática da comparabilidade entre desempenhos e benefícios e a oportunidade de libertar o princípio da igualdade de uma lógica elitista e reprodutora de desigualdades sociais.

     Em organizações que lidam com o fator da heterogeneidade compositiva, como é o caso das organizações educativas (e em diversos níveis), a equidade faz compaginar, numa lógica da educação para todos, igualdade, diversidade /diferenciação e orientação para a autonomia. Cabe aqui o relevo a atribuir a práticas de avaliação formativa alternativa, focadas nas aprendizagens - não a mesma educação para todos (desiguais), mas uma igualdade de oportunidades ajustada à diferenciação inclusiva.

4 comentários:

  1. Apenas duas Notas Soltas:

    Quanto ao exemplo do basquetebol, o melhor no capítulo de lances livres (free throws of all time, da NBA) é o canadiano Steve Nash, que mede «apenas» 1m 94cm.

    Li há tempos Hubert Hannoun, em "Comprende l´éducation", que nos mostra que a Escola não transmite exclusivamente a cultura dominante, mas antes o conjunto de culturas em conflito no grupo do nado-vivo.

    A mensagem da educação abarca o seu oposto ou, pelo menos, algumas das alternativas que podem colocar-se-lhe.



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    1. 1,94, com um jogo de braços e um salto, fica a um danoninho do encestamento.
      Quanto a Hubert Hannoun, no grupo de teses que equacionou no estudo sistematizador das correntes pedagógicas (as da harmonia e das relações empáticas; as teses do desequilíbrio ou da sobrevalorização do polo conflitual; as teses da ultrapassagem do conflito), sempre me motivou mais pela leitura destas últimas, apostadas na gestão do conflito (por mais latente que seja), por me merecerem maior registo de participação e democracia integrativa, sustentado em percursos / projetos alternativos.

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  2. Plenamente de acordo quanto a Hubert Hannoun.

    Já quanto a Steve Nash, faz um dos jogadores mais baixos da NBA, apesar do metro e noventa e quatro. A sua pendularidade tem que ver com o seu exemplar método proativo. O árbitro ainda tem a bola nas mãos e já ele está a lançar, treinando sem bola o lançamento.

    Cumps.

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    1. É para tu veres, Vitorino. Eu que não chego ao metro e setenta já vejo no metro e noventa e quatro um gigante, com condições bem mais propícias ao encestamento... Seja como for, o homem (por pequeno que seja frente aos pares) lá tem as suas qualidades. Caso para dizer que o tamanho não interessa (tanto assim, acrescento eu).
      Abraço e bom regresso à ESG.

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