segunda-feira, 10 de março de 2014

Cabisbaixo: uma questão de atitude?

     Não será apenas de atitude, mas a de algum fundamento e alguma consciência de irregularidades.

      É nesta linha que respondo à questão que me foi proposta por um colega.

     Q: Boa noite, colega. Depois de ler alguns dos seus 'posts' na Carruagem 23 sobre formação de palavras, gostava que me dissesse em que processo situava, por exemplo, "cabisbaixo". É um caso de composição? 

    R: Já tive a oportunidade de me referir a casos similares, alguns dos quais foram encarados tradicionalmente como exemplos de composição (ex.: vinagre, fidalgo). Numa perspetiva de consciência sincrónica, estes são casos, por certo, críticos, na medida em que qualquer segmentação dos termos - na tentativa de identificar os termos-base que concorreriam para a composição - levantaria problemas de identificação de um dos radicais, de uma das palavras ou bases.
      Ora, o mesmo sucede com "cabisbaixo" (< cabis?+baixo), descrito por alguns dicionários como de origem duvidosa e implicando processos de aglutinação e/ou supressão de segmentos fónicos; outros apontam para uma adaptação do empréstimo do castelhano cabizbajo
  Assim, perante o grau de complexificação de análise e a assistematicidade revelada na formação, vejo este como mais um caso de palavra lexicalizada, pela natureza atípica da sua construção morfológica em termos do falante comum.

     Neste sentido, mais do que o estudo morfológico do termo, entra mais aqui uma perspetivação lexicológica, capaz de equacionar dados ou contributos mais amplos do que os facultados pela morfologia.

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