quarta-feira, 5 de março de 2014

Versão romantizada de uma tragédia

       Dos tempos que já lá vão, só memórias e bem longe da realidade.

       A realidade trágica está bem distante (ainda bem!); os vestígios dela são hoje programa turístico.
     "Pompeia", para além de evocar uma cidade desaparecida, é ainda título para um filme (dirigido por Paul W. S. Anderson) que procura, a par de uma intriga romantizada e algum ingrediente da vingança, traçar a cor local e epocal típica dos filmes de enquadramento histórico.
      Para iniciar, o clima de horror é sugerido desde logo por uma citação do historiador Plínio, o Jovem, numa referência aos gritos dos homens, aos lamentos das crianças e ao desespero das mulheres.
 
Fotografias das ruas antigas empedradas e das ruínas de palácios em Pompeia (VO)

     As imagens seguintes são as de um modo de vida, as de uma realidade que ainda pode ser aproximadamente antevista nos sinais e nas ruínas da atual cidade, recuperada das escavações feitas no século XVI e aprofundadas dois séculos depois. As estátuas de pedra humana encontradas testemunham algumas das vítimas da catástrofe natural - a do casal de pé a beijar-se (abrindo e fechando a película) é criação fílmica, a concorrer com as conhecidas de uma mãe a amamentar o filho, a de um cão preso a correntes, a de todos os corpos expostos ao público turista naquele que era o espaço do mercado da cidade.
    No primeiro século do primeiro milénio, a destruição da cidade pela erupção do Vesúvio é o pano de fundo para a epopeia de Milo (o "Celta", protagonizado por Kit Harrington), uma vítima e um sobrevivente do exército romano, nas terras britânicas, transformado em gladiador vencedor na arena pompiana. Aí cumpre o seu grito de vingança, acompanhado por Átticus (representado por Adewale Akinnuoye-Agbaje).


    Na senda da liberdade, as forças da natureza vencem, tudo destruindo (inclusive os que se julgam detentores de um poder manipulador e insuperável). Cercados ora pelo fogo da lava vulcânica ora pelas gigantes ondas do maremoto que fez submergir a cidade, os habitantes de Pompeia não têm salvação. O mesmo sucede ao vilão, senador de Roma (Corvus, interpretado por Kiefer Sutherland).
       Petrifica-se, ainda, o amor e a nobreza de carácter dos heróis, pois a sobrevivência não tem hipótese na história trágica recontada. 

    Resta a mensagem de que, mesmo no seio da catástrofe inevitável e da morte arrasadora, é possível agarrarmo-nos ao que é ou se torna importante aos nossos olhos (mesmo que o essencial esteja para lá deles).

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