segunda-feira, 8 de abril de 2024

"Isto vai, meus amigos, isto vai"

    Assim começou o dia, citando as palavras de Ary dos Santos.

    Retomada a prática letiva em pleno mês de abril, celebrou-se um dos dias que, há cinquenta anos e entre muitos outros dias, no silêncio estratégico e agregador, deu expressão à liberdade e à democracia, tão queridas ao poeta citado.
    Num incentivo à mudança, com as cores da esperança, cumpriu-se Abril (sim, com maiúscula, pela simbologia convocada). Também podia ser Maio (de novo, com maiúscula), enquanto marca de tempo inspiradora para revoluções (a de Maio de 68 ou outra), voltadas para a melhoria e para o bem comum da humanidade:

Declamação do poema "O Futuro", de Ary dos Santos (in O Sangue das Palavras, 1978)

     Veja-se na palavra poética o movimento dos tempos, das pessoas, dos caminhos feitos com valores de participação, de esforço, de trabalho (ou não seja este um poema pertencente ao "Tríptico do Trabalho" - formado por "O Futuro", "A Terra" e "A Fábrica").

    Estes vão ser os dias, as semanas, o mês de abril, que cabem em cinquenta anos de democracia (a bonança), surgida de uma penosa ditadura (tempestade), para dar lugar ao desenvolvimento, à construção de um regime, de um povo, de um país.

sexta-feira, 22 de março de 2024

Questões de lateralidade

     Seja pela leitura (que não foi feita) seja pela perspetiva (que depende de quem vem e de quem vai).

   A imagem diz tudo: os parcos utilizadores da esquerda, caso se cruzassem com os da orientação contrária, ficariam impedidos no caminho. 
    Assim, os que em grande número desobedecem às instruções e caminham pela direita estão certos de que vão melhor dessa forma, já que estão todos no mesmo sentido, rumo a Gaia.
    Só uma senhora parece estar prestes a cumprir o que deve ser feito: atravessar a rua, chegar à esquerda (anunciada como direção a seguir) e, quem sabe, calcorrear a ponte D. Luís pelo piso dos automóveis (e não os dos transeuntes), para não impedir os que vêm ao seu encontro de prosseguir para a grande cidade invicta.
     Não sei se isto tem leitura de opções políticas, mas os resultados eleitorais de há dias apontam para uma maioria de direita. Será esta uma contrariedade assumida, reflexo dos tempos, trazida para a travessia da ponte?

      Está difícil a construção do caminho, mas ou muitos estão enganados ou, então, preferem a esquerda do vir enquanto seguem para Gaia. Confusão? Nada que não esteja no apontamento fotográfico, à direita, com tanto peão!
 

quinta-feira, 21 de março de 2024

Já foi a 21, agora dizem que é a 20

     Seja o dia que for, é Dia Mundial da Poesia.

   Ontem, alguém me dizia "Amanhã, temos poema". As palavras, ao som de alguma "diretividade" disfarçada de constatação futurologista, ecoaram na mente como dever a cumprir.
   Hoje deu-me para isto, nuns breves minutos de final de tarde, para descomprimir:

Composição poética com Vivaldi a acompanhar

    Deus me valha, mais a generosidade dos leitores. Já da música, é do melhor barroco para a celebração do dia.

     Perdoai-o, Senhor, que ele não sabe o que faz (com tanto que há para fazer)!

sábado, 16 de março de 2024

"Todas as palavras de amor"

      Eis o verso a abrir um dos poemas antologiados em As Palavras do Amor.

    Trata-se de uma compilação poética "de novos poetas de Espinho", conforme se lê na capa da publicação promovida pela Câmara Municipal local e a colaboração da 'elefante editores'. É a segunda edição de um concurso de escrita, bastante participado por alunos de instituições escolares do concelho, nomeadamente, o Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira, o Agrupamento de Escolas Manuel Gomes de Almeida e o Externato Oliveira Martins.
    Mais de sessenta jovens escritores, entre os onze e os dezassete anos, expressaram-se acerca de um sentimento universal, a marcar pessoas, tempos, espaços, seres vivos; feito do seu bem e do seu contrário, dos dilemas e das interrogações provocados; das definições a encontrar; de cores e matizes a combinar.
     Em oitenta e cinco páginas, uma resta em branco, para preencher, não com o vazio, mas com o pleno agradecimento a todos os que incentivaram e acompanharam esta aventura de escrita poética, particularmente a dos "novos poetas" que houve oportunidade de aplaudir, numa cerimónia levada a cabo pela Divisão de Educação e Cultura do município. 
      Nas palavras da Sr.ª Presidente da Câmara (e Vereadora da Educação), é uma iniciativa a repetir, dada a evolução, desde o ano letivo passado, no número de versos produzidos, na qualidade da produção e no número de participantes no concurso. Foi bem sublinhada a gratidão aos professores de Português, alguns dos quais assistiram à sessão oficial de lançamento do livro, no auditório António Gaio do Centro Multimeios de Espinho.
     Ouviu-se poesia, logo no início da cerimónia, com os versos iniciais de alguns textos do ano letivo 2022-2023:

Vídeo de apresentação  (exibição na segunda edição do concurso poético)

      Dele e do presente, ficam o orgulho e a satisfação de mais de dois terços dos títulos serem da autoria de estudantes do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (AEML). Prosseguiu-se com poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, uma conversa entre jurados e a oferta de livros aos agraciados com a publicação dos seus textos. Findou o evento com a fantástica participação musical de alunos da Academia de Música de Espinho.

    Um fim de tarde que juntou pais e mães, alunos, professores, num sentido de comunidade e comunhão que reconhece o contributo de muitos, particularmente daqueles que, nestes momentos, são um motor (muitas vezes invisível) de energia inesgotável. Obrigado aos professores de Português do AEML, que agenciaram o projeto junto dos respetivos aprendentes; particularmente a quem lidera este grupo disciplinar e também merece palavras de amor, ao assumir-se como interlocutora e colaboradora constante com os promotores da atividade (MTM).

quinta-feira, 14 de março de 2024

A propósito de uma exposição... o reencontro com História(s)

    O convite foi formulado, imediatamente aceite... e assim voltei a tê-los comigo.

   Na sequência do Dia da Mulher (e porque este deve acontecer todos os dias), a Biblioteca do Agrupamento de Escolas Dr. Manuel Laranjeira (AEML) tem o seu espaço ocupado pela presença de uma poeta: Sophia de Mello Breyner Andresen.
    À entrada da escola, nos corredores do edifício, a presença feminina evidencia-se, assim todos possam educar-se com os contributos que muitas mulheres têm deixado, em diversas áreas, para a Humanidade, por razões de abril ou outra que afirme a construção de valores dignos para qualquer ser humano.
     Convidaram-me a partilhar, com alunos de 12º ano, a minha leitura de alguns poemas de Sophia, da minha visão acerca da sua vida e obra. Tarefa difícil, por certo, dada a grandeza de quem foi falado e dado o relevo formativo, poético-literário a salientar para quem ia ouvir. Muitas caras familiares suavizaram o registo, pela lembrança do bem vivido.
    Enquadrada no tema do Plano Anual de Atividades deste ano letivo ("74:24 - o que cabe em 50 anos"), a poesia é tópico de destaque, na expressão comprometida e transfiguradora da sociedade. Se com Antero de Quental a máxima foi "A poesia é a voz da revolução", com a autora de Poesia (1944), Dia do Mar (1947), Coral (1950), Livro Sexto (1962), Grades (1970), O Nome das Coisas (1977), Ilhas (1990), entre muitos outros contributos poéticos, conjugaram-se as forças da terra, da natureza, do mar, da cultura e da erudição para a luz da libertação e da liberdade.
    Sublinhei os traços biográficos da ascendência aristocrática da primeira mulher a receber o maior galardão literário de expressão portuguesa - o Prémio Camões (1999) num puzzle criativo onde generosidade, humildade e sabedoria se refletem em poemas breves com mensagens eternas, como a da entrega e da dádiva poéticas ao leitor:

     EPIDAURO 62

Oiço a voz subir os últimos degraus
Oiço a palavra alada impessoal
Que reconheço por não ser já minha
                                                                   (in Ilhas, 1990)

       Três a cinco versos bastam para trazerem a vida, o(s) tempo(s), a cultura, a pátria, os valores da justiça, da verdade e da dignidade humana à reflexão - motivos mais do que suficientes para que, também, a escritora portuguesa tenha sido reconhecida, no país vizinho, com o Prémio Rainha Sofia (maior galardão para a expressão literária iberoamericana), em 2003.
       2004, 2014, 2024 são datas para Sophia: o da morte, o da trasladação do corpo para o Panteão Nacional, o de celebração de cinquenta anos do 25 de abril - facto histórico que a poeta eternizou em quatro simples versos:

        25 DE ABRIL

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.
                                                             (in O Nome das Coisas, 1977)

Obra de Sophia numa das secções da exposição, na Biblioteca do AEML (foto JR)

    Na versatilidade da obra (em modo lírico, dramático ou narrativo), há imaginário(s) rico(s) portador(es) desses valores que compõem uma ética de apelo ao imaginário, à cultura, à viagem, à descoberta, à origem da luz, do cristalino, da concha, da onda, da força que o ser humano transporta como "O super-homem" (que cada um de nós é no labirinto da vida).
      As flores da celebração eram as da primavera, do jardim, mas também as da liberdade - que se (re)viram nos poemas, no mar, na madrugada (25 de abril) que quebrou a noite e o silêncio (do regime ditatorial). 
      Assim foram evocados os versos da poeta, lidos, partilhados na mensagem de energia, de passagem, de crença e de luta pelo progresso das coisas, de aprendizagem e de vida, sugeridas na diversidade de matizes do coral:

     CORAL

Ia e vinha
E a cada coisa perguntava
Que nome tinha.
                                       (in Coral, 1950)

        Do mais que se dissesse e do muito que Sophia viajou (física e espiritualmente), pode dizer-se que Sophia, neste território espinhense tão marcado pelo mar, é personalidade para um roteiro que não pode esquecer esse leito original de vida:

       INSCRIÇÃO

Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.
                                        (in Livro Sexto, 1962)

       Se não tiver ficado a vontade de voltar a Sophia (na poesia, no passeio junto à Granja, na visita ao Panteão, na descoberta do Epidauro, na ironia que perpassa em "As Pessoas Sensíveis"), que esta tenha sido a razão para a vivência de uma libertação; de um momento de recordação; de reencontro com um tempo passado, num presente a caminho de futuro. Com História e com o agradecimento à MCB.

segunda-feira, 11 de março de 2024

Estratégias e interações para aprendizagens com o digital

     Numa sessão de formação para docentes do agrupamento.

    O desafio foi lançado e estruturou-se uma ação de curta duração destinada à equipa educativa que se encontra a trabalhar no projeto piloto dos Manuais Digitais (oito turmas e cerca de quarenta professores).
     Tudo começou pelas consabidas vantagens genéricas do digital:

Slide 1: Vantagens do Digital (extrato de PPT - VO)

   Prosseguiu-se com algumas orientações metodológicas a apontar para a pedagogia ativa e o método da aula invertida, enquanto pressupostos a considerar na planificação de procedimentos, de dinâmicas e tarefas, de mecanismos avaliativos, por forma a que o manual digital não se torne mais um exemplo "melhorado" de abordagem expositiva das aulas:

Slide 2: Pressupostos / orientações metodológico-didáticas para o trabalho com o digital 
(extrato de PPT - VO)

Slide 3: O método da aula invertida no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

    O foco da(s) interação(ões) prevalece num ensino-aprendizagem que se equaciona de acordo com princípios / sentidos de interação assentes na/no(s):

Slide 4: Sentidos de interação no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

   Por fim, reconheceu-se que ensinar e aprender com o digital levanta questões de fundo, algumas das quais encaradas como necessidades a destacar no trabalho a desenvolver:

Slide 5: Questões de fundo no trabalho com o digital (extrato de PPT - VO)

     E porque tudo não terminou sem alguma nota poética, foi relembrado um poema de Ana Luísa Amaral com um título sugestivo - não o do sentido de um verbo de movimento (que se assumiria desde logo no imperfeito), mas o de um universo de referência maiusculamente identificado com a "Inteligência Artificial":

Slide 6: Nota poética para terminar (extrato de PPT - VO)

     Com a afirmação do humano, dessa inteligência natural que não pode esquecer(-se) do papel que tem (nomeadamente na educação, no ensino-aprendizagem, as opções que intencionalmente assume), caminha-se para o que se anuncia como uma nova sessão de trabalho: a avaliação do projeto, dos processos de / para aprendizagem(ns), das tarefas, dos alunos.

domingo, 10 de março de 2024

Dia de eleições

      Este é o dia de reafirmação da democracia.

      Um dia que lembra o cravo de há cinquenta anos e tem de apagar sinais da arma que o fez florir.

Que o cravo inspire o ato de escolha, 
na consciência de que o futuro é sempre incerto, mas construído por quem vota.

    Que a escolha se cumpra e se reflita sobre o que não se fez, num caminho em que as incertezas e indefinições se tornaram uma prisão para um país que precisa(va) de muito diálogo e de soluções com maior(es) compromisso(s) - o(s) qual(is), assim o diz a História, surgiu(ram) muitas vezes sem maiorias. 

     Menos abstenção seria já a melhor resposta para quem provocou toda uma situação ainda sem resposta; ainda por provar. Tragicomédias não vão poder ser evitadas, garantidamente, mas que a escolha seja a de fazer progredir um país, livre de forças que o comprometem no que tem de bom. Seja este um país de cravos (destinado que parece estar a não viver num mar de rosas)!